sábado, 25 de dezembro de 2021

DEFINIÇÃO DO AMOR – Andrew Marvell

 

Tradução de Aíla de Oliveira Gomes
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Meu amor tem sua origem e objeto
Tão estranhos e de tal raridade –
Pois foi gerado pelo Desespero
Na própria Impossibilidade.

Somente o Desespero que me exalta
Um tão divino alguém me mostraria,
Onde, agitando em brilho as frágeis asas,
A Esperança tênue não ousaria.

Ainda assim, eu chegaria, decerto,
Onde minha alma, estendida, se fixa –
Mas o Fado, a meter cunhas de ferro
E a barrar meu caminho se encarniça.

Porque com olhos de inveja ele sente
Dois amores perfeitos – pra seu dano,
porque tal união, se ele consente,
Destronaria seu poder tirano.

E então cria decretos iracundos
Que em polos opostos nos espacem,
(Embora um mundo de amor nos circunde)
Não deixando que os amantes se abracem –

A menos que tontos desabem os céus,
Ruindo a terra em terremoto sério,
E, para unir-nos, este mundo, ao léu,
Se contraia num mero planisfério.

As linhas oblíquas (e, desse jeito,
O amor) podem em algum ângulo se tocar;
Mas as nossas – paralelo perfeito –,
Infinitas, nunca hão de se encontrar.

E, pois, este Amor que a nós une, ardentes,
E que o Fado trava, em sua querela,
É imagem da conjunção das mentes
E da oposição das estrelas.

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