SONETO DOS VENTOS MARINHEIROS
Os ventos marinheiros do alto mar,
Os frios e abissais fantasmas brancos,
Sopraram nuvens túmidas no ar,
A luz azul dos lívidos relâmpagos.
Pássaros vieram, devagar,
Sobrevoando a súbita paisagem,
Pelo flanco sonâmbulo, a cantar
A mensagem dos pálidos presságios.
Todo presságio quer se revelar,
(Ao longe, como príncipe no exílio,
O pássaro ferido quer voar),
E revela-se nas chuvas invernais,
Sabendo a vinho tinto dos martírios,
Martírios com sabor de nunca mais.
.....
SONETO DA LARANJA
És fruta bem feminina
Pois te ofereces madura
Quando o sumo se adivinha
Dentro da camadura.
Se despes a casca
Teus seios se insinuam,
Águas se derramam
Como se estivesses nua.
Germinas a luz do sol
Dentro das tuas fibras,
Pois, se te espremem, as cores
Escorrem sobre a língua,
Os lábios sabem a flores
E a boca se ilumina.
.....
DÓI-ME A VIDA
Dói-me a vida como coice de mula,
Range-me a noite como louca mola,
Há um filete de sangue na medula,
Uma foice com fome de degola,
A cadela que nunca se consola,
Uivando para a lua, late, ulula,
O cavalo que nunca se controla,
Bebe o mijo das éguas, rincha e pula,
Há demónios ocultos como súcubos,
Mulheres possuídas pelos íncubos,
Deixando-se varar pelas estacas,
Há uma agulha na veia mais secreta
E um reflexo de lâminas e facas
Iluminando a goela das gavetas.
......
CACAUEIROS DE ABRIL
Cacaueiros de abril descendo a encosta
Cantam vozes de chuvas perfumadas,
Veludíssimas folhas encharcadas
De lágrima sutil que não se mostra,
Cântico das águas derramadas,
Beijo de amor que a planta gosta,
Recebendo-o na face descarnada
A que possa lhe dar franca resposta.
Cacaueiros de abril nascem de chuvas
Geladas a molhar velhas janelas,
Onde o antigo menino se debruça,
A noite, combatendo, à luz das velas,
A escuridão da treva mais pressaga
No sonho da manhã que não se apaga.
Os ventos marinheiros do alto mar,
Os frios e abissais fantasmas brancos,
Sopraram nuvens túmidas no ar,
A luz azul dos lívidos relâmpagos.
Pássaros vieram, devagar,
Sobrevoando a súbita paisagem,
Pelo flanco sonâmbulo, a cantar
A mensagem dos pálidos presságios.
Todo presságio quer se revelar,
(Ao longe, como príncipe no exílio,
O pássaro ferido quer voar),
E revela-se nas chuvas invernais,
Sabendo a vinho tinto dos martírios,
Martírios com sabor de nunca mais.
.....
SONETO DA LARANJA
És fruta bem feminina
Pois te ofereces madura
Quando o sumo se adivinha
Dentro da camadura.
Se despes a casca
Teus seios se insinuam,
Águas se derramam
Como se estivesses nua.
Germinas a luz do sol
Dentro das tuas fibras,
Pois, se te espremem, as cores
Escorrem sobre a língua,
Os lábios sabem a flores
E a boca se ilumina.
.....
DÓI-ME A VIDA
Dói-me a vida como coice de mula,
Range-me a noite como louca mola,
Há um filete de sangue na medula,
Uma foice com fome de degola,
A cadela que nunca se consola,
Uivando para a lua, late, ulula,
O cavalo que nunca se controla,
Bebe o mijo das éguas, rincha e pula,
Há demónios ocultos como súcubos,
Mulheres possuídas pelos íncubos,
Deixando-se varar pelas estacas,
Há uma agulha na veia mais secreta
E um reflexo de lâminas e facas
Iluminando a goela das gavetas.
......
CACAUEIROS DE ABRIL
Cacaueiros de abril descendo a encosta
Cantam vozes de chuvas perfumadas,
Veludíssimas folhas encharcadas
De lágrima sutil que não se mostra,
Cântico das águas derramadas,
Beijo de amor que a planta gosta,
Recebendo-o na face descarnada
A que possa lhe dar franca resposta.
Cacaueiros de abril nascem de chuvas
Geladas a molhar velhas janelas,
Onde o antigo menino se debruça,
A noite, combatendo, à luz das velas,
A escuridão da treva mais pressaga
No sonho da manhã que não se apaga.
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