terça-feira, 28 de dezembro de 2021

HISTÓRIA DE UMA SEPARAÇÃO – Nâzim Hikmet

 

Tradução de E. Carrera Guerra
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Disse o homem à mulher:
eu te amo.
E como!
Como se nas mãos apertasse
meu coração, qual estilhaço de vidro
que num assomo partisse
e os dedos
me sangrasse.
Disse o homem à mulher:
eu te amo
e quanto!
Com a profundeza de quilômetros
uma imensidade de quilômetros.
Cem por cento
mil por cento,
cem vezes infinitamente por cento.
Provei-o
em meus lábios,
minha cabeça,
meu coração.
com amor, com terror, debruçando-me
sobre teus lábios,
teu coração,
tua fronte.
E o que hoje digo
contigo foi que o aprendi
Qual um murmúrio nas trevas.
E hoje em dia sei
que a terra,
mãe de rosto ensolarado,
amamenta
o mais belo de seus filhos.
Mas que fazer?
Meus cabelos estão presos a dedos moribundos.
Não posso libertar dali minha cabeça.
Tu deves partir,
mirando nos olhos do recém-nascido.
Deves deixar-me, deves partir.
A mulher calou-se.
Eles se abraçaram.
Ao chão um livro tombou.
Uma janela se fechou.
Foi assim
que se fechou.
Foi assim
que se separaram.

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