Tradução de Alexei Bueno
.....
MEMENTO MORI
Não levanteis esta capa de chumbo
Onde meu corpo jaz em seus marfins,
Meus olhos sem mim vagam pela noite,
Contai meus dentes no esqueleto pardo.
O asceta jovem de silentes carnes
As palavras reuniu: o bem, o mal,
Verdes leitos. Lá deita a sua beleza.
Naquele tempo, fluíam fontes quentes.
Leve murmúrio era o seu corpo, o corpo
Onde aves aninhavam, frases vivas.
A morte, a morte as fez voar mais longe.
Contra o seu dorso, estranhas cartilagens:
Alado, como um morcego, ele fora,
Ninguém via essas asas invisíveis.
Anjo, ele o foi, e ninguém nunca o soube.
Não levanteis esta capa de chumbo
Aí acharíeis certo dois cadáveres:
Num corpo só dois homens se batiam
Para melhor se unir no poema único
Da tristeza, oh essa tenra criança morta.
.....
TOURO
O filho da água se desfaz na bruma
Para melhor amar o inseto e as folhas.
Sua irmã a lua acompanha seus passos,
O pirilampo é sua única música.
Ele partiu, a cidade nas costas,
Ele chegou sem morte ao outro mundo,
A face viva esquecida na aurora
Por um rebanho de obstinados cegos.
Ele mirava a infinidade de astros
No dia pleno – sou maçã ou tordo?
Ou bem fendia o mundo como um ovo
Para fitar seus secretos pensares.
Ele aspirava o aroma do porquê
E, o paladar do homem sobre a língua,
Amadurava os trigais de seus olhos
Para banhar-se em sua imensidade.
Colhamos rosas de cristal, colhamo-las
Para entrever as estações que fogem.
Ele que dura como aguda flecha
Fura por nós os segredos do dia.
.....
PAISAGEM MORTAL
Não há mais a ave, o monstro ainda não veio,
Aonde chegar neste mundo esmagado?
Aí somos nós, a morte em nosso seio,
carne com carne, em meio ao dia alheado,
em marcha exausta até um amanhecer.
Não há mais entre um homem e sua sombra
que um vácuo onde seus dias têm passado.
Astros que comem mundos, noite hedionda,
eu planto um grito qual punhal roubado
no flanco onde Deus ia em sua ronda.
Toda a dor aos seus êxtases me leva.
É isso o crime, é essa a paz que aguardo?
Entre as palavras, rostos se encarceram
que me dão medo. Uma estação, e eu ardo
em roê-los com a verbal fome primeva.
Não há mais a ave, olhar nenhum se espalma.
Busca-se um fosso aonde adormecer,
mas tantos corpos há, sem sonho ou alma,
que o homem no homem teve de morrer
e os vocábulos nutrem-se de lábios.
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MEMENTO MORI
Não levanteis esta capa de chumbo
Onde meu corpo jaz em seus marfins,
Meus olhos sem mim vagam pela noite,
Contai meus dentes no esqueleto pardo.
O asceta jovem de silentes carnes
As palavras reuniu: o bem, o mal,
Verdes leitos. Lá deita a sua beleza.
Naquele tempo, fluíam fontes quentes.
Leve murmúrio era o seu corpo, o corpo
Onde aves aninhavam, frases vivas.
A morte, a morte as fez voar mais longe.
Contra o seu dorso, estranhas cartilagens:
Alado, como um morcego, ele fora,
Ninguém via essas asas invisíveis.
Anjo, ele o foi, e ninguém nunca o soube.
Não levanteis esta capa de chumbo
Aí acharíeis certo dois cadáveres:
Num corpo só dois homens se batiam
Para melhor se unir no poema único
Da tristeza, oh essa tenra criança morta.
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TOURO
O filho da água se desfaz na bruma
Para melhor amar o inseto e as folhas.
Sua irmã a lua acompanha seus passos,
O pirilampo é sua única música.
Ele partiu, a cidade nas costas,
Ele chegou sem morte ao outro mundo,
A face viva esquecida na aurora
Por um rebanho de obstinados cegos.
Ele mirava a infinidade de astros
No dia pleno – sou maçã ou tordo?
Ou bem fendia o mundo como um ovo
Para fitar seus secretos pensares.
Ele aspirava o aroma do porquê
E, o paladar do homem sobre a língua,
Amadurava os trigais de seus olhos
Para banhar-se em sua imensidade.
Colhamos rosas de cristal, colhamo-las
Para entrever as estações que fogem.
Ele que dura como aguda flecha
Fura por nós os segredos do dia.
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PAISAGEM MORTAL
Não há mais a ave, o monstro ainda não veio,
Aonde chegar neste mundo esmagado?
Aí somos nós, a morte em nosso seio,
carne com carne, em meio ao dia alheado,
em marcha exausta até um amanhecer.
Não há mais entre um homem e sua sombra
que um vácuo onde seus dias têm passado.
Astros que comem mundos, noite hedionda,
eu planto um grito qual punhal roubado
no flanco onde Deus ia em sua ronda.
Toda a dor aos seus êxtases me leva.
É isso o crime, é essa a paz que aguardo?
Entre as palavras, rostos se encarceram
que me dão medo. Uma estação, e eu ardo
em roê-los com a verbal fome primeva.
Não há mais a ave, olhar nenhum se espalma.
Busca-se um fosso aonde adormecer,
mas tantos corpos há, sem sonho ou alma,
que o homem no homem teve de morrer
e os vocábulos nutrem-se de lábios.
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