sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

MARIA, A CORTADORA DE NAVALHAS – Adriana Vieira Lomar

 

Seus olhos eram grandes firmes amarronzados
Suas mãos frágeis
Seus doze anos incompletos
Sua tez enrugada.

Trabalhava pesado,
Não tinha final de semana
Não tinha idas ao mar
Não tinha idas ao bosque.

O dia era o mesmo todos os dias.
Acordava às quatro,
Almoçava às dez, jantava às cinco,
Caminhava ao seu quarto à sete.
Às seis e meia o padrasto a acariciava por detrás da mesa
Às oito adormecia com os olhos vidrados na porta.

Amanhecia no canavial.
O braço lotado de cortes,
O ventre esperando o filho das seis e meia,
A barba do velho roçando sua tez de maracujá.

De dia o caminho da estrada de barro
As pedras furando os pneus
E o resto do caminho,
Sozinha, até o açude...

Hora do banho.
Hora das lavadeiras.
Hora do canto das açucenas.
Hora do sabonete.
Hora de enxugar o corpo e de novo o dia nascendo às quatro
E morrendo a cada instante às oito.

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