Hoje tua cidade amanheceu sitiada
todos os homens capitularam
seus corpos estão empilhados
à espera de recolhimento
veem-se os vestígios dos seus paramentos
em lugares ocos
abandonados às pressas
Chegam-me notícias de que todos os teus soldados
têm escoriações na face
e estás enclausurado olhando o mar
de uma janela lúgubre
enquanto tigres transportam
teus sobejos para o pântano
num vaivém irrequieto
Na sala menor
tua mãe chora em silêncio
o filho mais novo
perdido
tua filha muda
jamais te dirigirá a palavra
e seus olhos embaciados
guardam a dor e o ódio
que explodiram o coração
da mãe dela
dentro de um carro
à espera do socorro que nunca veio
enquanto tuas irmãs
em agonia
o leito definitivo
dos maridos ensonados do eterno
dos seus filhos tornados
promessa irrealizável
em seus úteros enlutados
e murchos
As árvores estão plangentes há muitos anos
choram os teus mortos
todos aqueles destinados a um saco plástico
e que és incapaz de chorar
como foste incapaz de chorar
o peixe ferido por prazer
a castanheira derrubada por gana
a ovelha que balia
desesperada
abatida por saciar
tua fome de desastres
Zero hora em Alcázar-Quibir
os sinos de cristal resfolegam
estrondosos
na tua cidade de pálidos azuis
esmorecida e sitiada
pela indiferença tóxica
dos mercadores
que a teu mando negociam
desavisadamente
o cabedal que não possuímos
todos os homens capitularam
seus corpos estão empilhados
à espera de recolhimento
veem-se os vestígios dos seus paramentos
em lugares ocos
abandonados às pressas
Chegam-me notícias de que todos os teus soldados
têm escoriações na face
e estás enclausurado olhando o mar
de uma janela lúgubre
enquanto tigres transportam
teus sobejos para o pântano
num vaivém irrequieto
Na sala menor
tua mãe chora em silêncio
o filho mais novo
perdido
tua filha muda
jamais te dirigirá a palavra
e seus olhos embaciados
guardam a dor e o ódio
que explodiram o coração
da mãe dela
dentro de um carro
à espera do socorro que nunca veio
enquanto tuas irmãs
em agonia
o leito definitivo
dos maridos ensonados do eterno
dos seus filhos tornados
promessa irrealizável
em seus úteros enlutados
e murchos
As árvores estão plangentes há muitos anos
choram os teus mortos
todos aqueles destinados a um saco plástico
e que és incapaz de chorar
como foste incapaz de chorar
o peixe ferido por prazer
a castanheira derrubada por gana
a ovelha que balia
desesperada
abatida por saciar
tua fome de desastres
Zero hora em Alcázar-Quibir
os sinos de cristal resfolegam
estrondosos
na tua cidade de pálidos azuis
esmorecida e sitiada
pela indiferença tóxica
dos mercadores
que a teu mando negociam
desavisadamente
o cabedal que não possuímos
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