quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

OS DESAPARECIDOS – Roger Robinson

 

Tradução de André Capilé
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Pelas vítimas do incêndio da Torre Grenfell
Como se seus corpos ficassem mais leves,
dez dos que estavam sentados
nos bancos da frente começaram a flutuar,
e depois deitaram como se
numa cama. Depois passaram pelo corredor,
como se estivessem numa esteira de ar puro,
vagarosos como um cortejo fúnebre,
passando pelos congregantes, alguns caem
de joelhos em oração.
Uma Mulher, balançando pra trás e pra frente.
Murmurou, E quanto a mim, Senhor,
por que não eu?
Os Insurgidos fluem lentamente, tão lentamente
pelas portas góticas
e, céu acima, os tentilhões se arremessam
com perícia entre eles.
A dez ruas de distância,
um marido tenta segurar pelos pés
sua esposa flutuante. Na hora a força dela
o levanta levemente do chão,
e ele a deixa escapar. Ele cai
de joelhos segurando o salto
alto dos sapatos dela na mão.
A vista envesga e ele tapa os olhos
enquanto ela resplende sob o sol.
Um sem número de pessoas começa a brotar
das janelas de um dos blocos da torre;
lá de longe elas poderiam ser
a fumaça preta entre as chamas se espalhando.
Um pai com sua cria por cima dos ombros,
homens com galiibeas da cor da areia; uma mulher
com um topete tipo Elvis e óculos vintage,
um hijab índigo profundo balançando ao vento;
um artista com turbante de fios encerados;
todos voando pelo ar, esses super-heróis,
essa ostentação da fé voando pelo ar,
esse rebanho de crentes.
Junto aos cirros, como cabelos flutuando,
começam a parecer-se uma cidade cindida.
Alguém que os visse poderia confundi-los
com os recém-chegados à terra.
Eles são a cidade dos desaparecidos.
Nós, agora, a cidade dos restos.

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