Tradução de Ivan Junqueira
.......
GRANDES ENFERMIDADES
Todos têm uma perna.
É tão difícil evitar ou subir
Os degraus da escada, sem bengala
Ou muleta que nos sustente o nome.
E também só um braço. Impossíveis contorções
Para enlaçar a quem se ama,
Cortar o pão sobre a mesa,
Vestir um casaco às pressas.
Eu diria que somos quase cegos,
E algo surdos de ambos os ouvidos.
É perigoso andar nas ruas
Entre congregações de aflitos.
Com apenas alguns degraus destinados à memória.
Docilmente nos deixamos dispersar
No crepúsculo sem fim: cães
De olhos vazios em nossas correntes.
Uma imensa quietude em toda parte
Com as árvores sempre nuas,
Os pingos da chuva a cair só pela metade,
A cair tão próximos e tão desamparados.
........
OLHOS FECHADOS COM ALFINETES
Por mais que a morte trabalhe,
Ninguém sabe o que um longo
Dia nos apresenta. A viuvinha
Sempre só que passa a roupa
Na lavanderia da morte.
As belas filhas
Que servem a ceia da morte.
Os vizinhos que jogam
Pinocle ao fundo do quintal
Ou sentam-se nos degraus da escada
A beber cerveja. Enquanto isso
A morte, num estranho
Recanto da cidade, olha
Para alguém que tosse sem cessar,
Mas o endereço de algum modo errado
Impede que a morte o identifique
Por entre todas as portas que contempla...
E a chuva começa a cair.
Uma longa noite tempestuosa pela frente.
A morte não tem sequer um jornal
Para cobrir a cabeça, sequer uma moeda
Para telefonar a quem alfinetou ao longe,
E que se despe lenta e sonolentamente,
Estendendo o corpo desnudo
Ao lado do leito da morte.
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GRANDES ENFERMIDADES
Todos têm uma perna.
É tão difícil evitar ou subir
Os degraus da escada, sem bengala
Ou muleta que nos sustente o nome.
E também só um braço. Impossíveis contorções
Para enlaçar a quem se ama,
Cortar o pão sobre a mesa,
Vestir um casaco às pressas.
Eu diria que somos quase cegos,
E algo surdos de ambos os ouvidos.
É perigoso andar nas ruas
Entre congregações de aflitos.
Com apenas alguns degraus destinados à memória.
Docilmente nos deixamos dispersar
No crepúsculo sem fim: cães
De olhos vazios em nossas correntes.
Uma imensa quietude em toda parte
Com as árvores sempre nuas,
Os pingos da chuva a cair só pela metade,
A cair tão próximos e tão desamparados.
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OLHOS FECHADOS COM ALFINETES
Por mais que a morte trabalhe,
Ninguém sabe o que um longo
Dia nos apresenta. A viuvinha
Sempre só que passa a roupa
Na lavanderia da morte.
As belas filhas
Que servem a ceia da morte.
Os vizinhos que jogam
Pinocle ao fundo do quintal
Ou sentam-se nos degraus da escada
A beber cerveja. Enquanto isso
A morte, num estranho
Recanto da cidade, olha
Para alguém que tosse sem cessar,
Mas o endereço de algum modo errado
Impede que a morte o identifique
Por entre todas as portas que contempla...
E a chuva começa a cair.
Uma longa noite tempestuosa pela frente.
A morte não tem sequer um jornal
Para cobrir a cabeça, sequer uma moeda
Para telefonar a quem alfinetou ao longe,
E que se despe lenta e sonolentamente,
Estendendo o corpo desnudo
Ao lado do leito da morte.
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