segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

POEMAS – Ernesto Guevara de la Serna

 

Tradução de Rafael Rocha
......
À POBRE VELHA MARIA

não reze para esse deus inclemente
que frustrou as tuas esperanças,
e a tua vida inteira,
não peça clemência desde a tua morte,
tua vida foi horrivelmente coberta de fome
e termina coberta pela asma.

mas eu quero te anunciar,
com a voz em sussurros
mas viril de esperanças:
a mais vermelha e viril das vinganças.

quero jurá-la na exata
dimensão de meus ideais.
pegue a mão deste homem
que parece a de um menino
entre as tuas,
polidas pelo sabão amarelo,
esfregue os calos duros
e os nós puros
na suave vingança
de minhas mãos de médico.

descanse em paz, María,
descanse em paz, velha lutadora,
eu te prometo
que os teus netos
viverão todos para ver a alvorada
que lhe foi suprimida
...apagada
.........
CONTRA O VENTO E AS MARÉS
(Dedicado a Aleida, minha mulher)

Este poema
(contra o vento e contra as marés)
levará a minha assinatura.
Deixo-lhe em seis sílabas sonoras,
um olhar que sempre traz
(como um pássaro ferido)
ternura,
um anseio de profundas águas mornas,
uma sala escura
em que a única luz são esses versos meus,
um dedal muito usado
para suas noites de enfado,
um retrato de nossos filhos.

A mais linda bala desta pistola
que sempre me acompanha,
a memória indelével
(sempre latente e profunda)
das crianças
que, um dia, você e eu concebemos,
e o pedaço de vida que resta em mim.
Isso eu dou convicto e feliz à revolução
por um mundo melhor
pois sei que nesta vida
nada que nos pode unir terá maior força.

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