domingo, 12 de dezembro de 2021

IMAGENS DE BANHEIRO - Carlos Fernando Fortes de Almeida

 

Banheira de banhar
baleia côncava
o fosso aberto
que represa água
cio da curva
tão oblonga
corpo a boiar
no fosso imerso
entre borbulhas
Banheiro de lavar
sabão viscoso
relustrando anca
triste pendência
da toalha-trança
Ávida goela de ralo
esgotando redemoinho d´água
e a tampa de borracha
abandonada
no desvão dos azulejos
Escorrem gotas de carne
no ladrilho
límpido
úmido úmido
úmida carne
Higiene de sol
entrando na janela
bordas de ferro
vidro opaco
granulado
mas aberta
ao movimento da alavanca
Higiene de sol
curando sarnas da pele
explosiva claridade
refletida nas paredes
A touca enxuta
o rolo de papel
embutido no buraco quadrilátero
A patente
caramujo de louça
molusco cimentado no chão
caramujo prestativo na missão
O cacarejo da descarga
revolvendo a água
nunca benta
Penhuares
penhoares no gancho de mármore
penhoares vestindo vultos
na manhã
vestindo o corpo morno do sono
cheirando a bolor de cama
Penhuares
vultos fantasmagóricos
acompanhando bocejos
na lavagem da pia ao despertar
A água fresca no rosto dormido
como pão dormido
os olhos esfregados
pelos dedos tontos
as primeiras remelas removidas
O pente
disciplina o cabelo
crispado nos sonhos
pelas unhas
cortado judiado
ao desespero matinal
desfeito à noite
em mudanças de lado das cabeças
procurando cômodo melhor aos ossos
Ai, penhuares arrebatados
ao gancho do banheiro onde vertidos
arrebatados na fúria das febres
ou notícias de acidentes
em chamados telefônicos
de alta madrugada
Penhuares desvairados
percorrendo corredores
esquadrinhando os ângulos do quarto
em urgentes atitudes
penhoares
sobre sombras acordadas
na insônia das lâmpadas acesas
pervagando casa
sem desígnio exato
O saco vermelho de água quente
pende do barbante
o saco que depende da febre
para praticar o ofício analgésico
Banheira de banhar
baleia branca
de ágata
baleia quase santa

Nenhum comentário:

Postar um comentário