quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

DOIS POEMAS – Jamesson Buarque

O DICIONÁRIO ABERTO

Na mesma página
Pela mesma palavra
Dia após dia
Como um fóssil
A sílaba dental e aberta
Cantada longa
Pelo mesmo poeta
Verso após verso
Como um fóssil
A Lua centrada
Na mesma fotografia
Pelos mesmos olhos
Lâmpada após lâmpada
Como um fóssil

Nada disso é lembrança
É artesanato
Um sortilégio de memória
Ou monumento
Jamais o passado
.......
NÃO TIRE FÉRIAS

Provoque um feriado prolongado
Dentro das férias Um intervalo
Isto de hiato ou halo
Não conviva entre os conhecidos
Nem conviva entre quem novidade
Passe pelos estranhos tão estranho quanto
Um fantasma de carne e osso
Leve as madrugadas na cama
Fabricando sonhos em contos
Para repousar o senso
Abandone-se do caminho quatro vezes errado
Retorne para sua residência
Entre as páginas de outros hábitos
Não escreva aquela carta nem ouça
Canções daquele mesmo álbum
Aguarde em emulsão de álcool
Despeje ácido no que for desnecessário
E somente faça planos
Para antes do passado mais imediato
Ou ouse qualquer coisa de saltar
De abismo abaixo armando as asas
Mas somente consigo e quem lhe aprecie de fato
Para além de mais adiante
Depois descanse

Nenhum comentário:

Postar um comentário