sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

PARAISO – RUPERT BROOKE

 

Tradução de Ricardo Carvalho
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Saciados de moscas, os peixes, em pleno estio,
À toa, no leito líquido de um rio,
Meditam a fundo, obscura ou claramente,
Esperanças suas secretas e os medos seus em mente.
Dizem eles: esse Lago, este Riacho, tudo bem,
Mas será que existe algo mais Além?
Tudo, eles juram, não há de ser só essa vida;
Se fosse, que coisa mais aborrecida!
E que ninguém duvide: de algum modo o
Bem desta Água vem e deste Lodo;
E o olho reverente há de enxergar, lógico,
Em toda Liquidez algum Propósito.
Certeza nos falta, da Fé surge o eco:
O futuro dos peixes não é o Todo Seco.
És lodo, ao lodo tornas – logo a Morte vem vindo –
Ainda não, não aqui, nada é findo!
Porém, nalgum lugar além de Espaço e Tempo,
A água é mais molhada, o visgo, mais visguento!
Segundo os peixes, é lá que Ele nada,
O Que já nadava quando os rios eram nada;
Imenso, de písceas forma e mente,
Escameado, gentil e onipotente;
E sob aquela Todo-poderosa Barbatana
Qualquer peixinho encontra abrigo e flana.
Ah! Mosca nenhuma esconde anzol por baixo
(falam os peixes) lá no Eterno Riacho,
O que existe, para além das ervas mundanas
E de toda aquela celestial e aprazível lama:
Larvas gordas de borboletas dando sopa,
Paradisíacas lesmas a dar água na boca,
Perenes mariposas, imortais moscas,
E minhocas sempre tenras formam roscas.
E neste Paraíso, dos desejos seus um feixe,
Não mais terra há de existir, dizem os peixes.

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