quarta-feira, 2 de março de 2022

À FLOR D’ALMA – Lina Tâmega Peixoto

 

Compro um barco e aí vou
descobrir um continente.
Já me cansei desta terra,
do abrigo, das promessas.

Fecho os olhos e abro as velas
sinto a sorte delirando.
Todo estendo meu cabelo,
frutos neste mar brotando.

Lá, deixei tudo o que tinha
como se já fora morta.
Ah! Porém, fraqueza e âncora,
coração, levo comigo,

pois não consigo afogá-las.
Pesam tanto. Eu não sabia.
Não descubro meu destino
nos rodopios do vento

que açoita a minha paixão.
Navego na mesma rota
de um avô açoriano
- ermo sol da estrela norte.

Que sofra por ter querido
reino tirado dos livros.
O tempo já é outrora,
sigo na imagem do mar.

Eis que súbito, encalho
à flor d’água, d’alma.

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