sexta-feira, 25 de março de 2022

DOIS POEMAS de Cláudio Portella

 

CABAÇO
a Hilda Hilts
.....
Quando digo olhar
nunca, jamais
penso em
o-l-h-o
Olho para o meu
transformou-se em vidro
cartão telefônico com uma fina camada de plástico

Quando digo mulher
todo o meu saber fazer
fora preparar um peixe e exagerar no sal
Mulher para os devaneios
é um intervalo entre um poema feminino de Vinicius
e um dia de ressaca

Quando digo vou embora
jamais, nunca
pretendi dizer adeus
Adeus para mim é uma oferenda ao criador
é estilhaçar com um tiro na boca
a pedrinha de cânfora debaixo da língua
........................
LIVRO ATA: OCORRÊNCIA DE OITO DE MARÇO

quando senti o banho de cerveja na pele
o descontrole de uma mulher a atirar
a cerveja do copo em meu corpo
vi retroceder o filme
há quatro anos dei, vejam bem, por duas vezes
um banho de cerveja gelada na mulher amada
hoje, como se o destino estivesse previsto por Nostradamus,
oito de março, dia internacional da mulher
uma mulher descontrolada, como eu há quatro anos
encarna a mulher amada de outrora
e em nome, não só dela, mas de todas as outras
que um dia foram agredidas com um copo
de cerveja na cara
banha meu corpo e lava minha alma

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