BONDADE DOS ANJOS
eu não acredito na bondade dos anjos
todos parecem bebês de rosemary
o colorido dos vitrais não ameniza
a melancolia assustadora estampada
em seus semblantes
no centro da casa
sagrada
o homem abre o livro
sagrado
e recita para si palavras pesadas
como o som de mil crucifixos
arremessados ao chão
e eu penso nos pecados mais bizarros
que rondam o confessionário de vozes alteradas
depois aliviadas,
por depositarem nos ombros do representante do pai
a culpa dos seus atos impensados
ou dolorosamente calculados
penso nos joelhos esfolados
por baixo das calças puídas dos fiéis fervorosos
que não sentem o gosto de ferro na boca
nem o gosto do sangue no cálice
e os sinos badalam doze vezes pausadas
ensurdecendo meus sonhos sacros
fazendo-me abrir todas as noites os olhos
quando deveriam estar fechados.
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CASA AO LADO
na casa ao lado
espíritos inquietos sobem e descem escadas
como se o melhor a fazer fosse
subir e descer escadas
são 3:47
o sono das 3:00 já foi perdido
agora no ponto dos conscientes
espero a dormência dos sentidos
calem esses passos
como calaram as almas dentro da casa escura
amarrem esses pés
como fizeram com as vozes na gaiola da mordaça
tirem seus valiuns das gavetas
e entrem nas sombras dos cobertores
morfeu, acuda esta gente!
dardos com soníferos no centro das testas
areia movediça ao redor das camas
e uma injeção de sonhos mudos na espiral dos meus ouvidos.
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