segunda-feira, 28 de março de 2022

POEMAS de Ana Martins Marques

 

AQUÁRIO

Os peixes são tristes no aquário
mesmo que não conheçam o mar
alguma coisa neles quer o amplo.

No poema
morrem sem água
na primeira estrofe.
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QUINTAL

para a tristeza de uma vida sem colheita
para a indignidade da decoração
essas plantas foram vindo
como cães domesticados
cada uma de uma cor.
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O DESEJO

Sou alérgica ao desejo
como ao mofo, ao mar,
aos gatos, ao leite,
aos lugares fechados, a certas flores.
Sou alérgica ao desejo –
doem-me os olhos,
incham-me as pernas,
o sexo arde
como uma caixa de abelhas
lacrada.
O desejo acende-me
como uma casa incendiada;
o desejo me deixa
sem mais nada.
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RELÂMPAGO

Certas máquinas são feitas para o esquecimento.
Há dias em que sinto trabalharem em mim
as confusões do relâmpago.
Então coleciono letras, órbitas, radares.
A linha que me liga aos quadris desta noite imensa
é a mesma que sai da garganta aberta do dia.
Vejo as estrelas desenharem-se em constelações,
sei muitas coisas rápidas, precisas,
por alguns instantes.

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