quarta-feira, 2 de março de 2022

VERSOS de Antônio Carlos Gomes

 

DELÍRIOS

Que não quer pertencer ao barro
Ao qual atribui sujeira
E a mente. Toda desnuda
Despe a redondeza
Com as fantasias deformadas
De viver sem beira nem eira
Na estrada nunca acabada.
..........................
REBULIÇO

Às vezes
O grande defeito
É não ter defeitos.
Apenas
Seguir a toada morna
Da lógica do viver
E, pensar

Caminhar
Prevendo o futuro
Para não cair no escuro
De se desencontrar.

Seguir na terra firme
Sabendo onde pisar
Mas,
Se enganar com o mundo
Este reino que vive
Em total rebuliço
Onde nada está escrito
Não existe um lugar
Seguro para caminhar.
.............................
2012

Sociedade de mortais
Todos viventes são iguais.

A sociedade humana
O homem inventou
Ele próprio complicou.

Sendo todos iguais
Temos que ser imortais
Ter o nome nos jornais.

Para compensar a finitude
Temos que ter atitude.
Pelo menos por um instante
Devemos ser importantes.

Rei de Espanha é importante
Matou um elefante...
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RETORNO E RETRATO

Não jogues fora meu retrato,
Não adianta, não vai adiantar,
Não é por desfeito nosso trato
Que vai o amor assim terminar.

A brasa fica sempre acesa
Pronta a de repente incendiar
Se não tem face, com certeza:
Novamente outra irá formar.

Não creia que este rosto apagado
Jamais irá ressuscitar
A fera em bote calculado
Certeira vai recapturar.

Ponha perfis num relicário
A foto e momentos de amar
Que passada a dor do calvário
Por certo irei te procurar.

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