DIREÇÃO
A febre que se esconde sem seu grito
nenhum bardo alcançou.
Nenhum passo caleja a meu encontro,
nem palavra debruça no meu cio.
Meu caminho é agora, lá na frente
ninguém respira. Há álamos sombrios.
Eu sou caudal de rio intermitente.
Cais não conheço nem arrasto amores.
Leva-me onde for, solta, a corrente.
Meu leme é minha mão, meu lume, estrela,
meu destino é aqui, ali, alhures.
Roteiro e direção não tenho escritos,
nem me comanda voz, nem prende o pulso.
Vou aonde o olho pise, e o pé alcance.
....................
PITUBA
Este meu bairro à noite é como um rio,
faróis correndo pelo asfalto morto,
águas em luzes, ondulado fio
buscando algum indefinido porto.
Guardas imensos feitos de cimento
curvas cabeças vítreas em neon,
do alto interrogam dos que vão no leito
aonde irão tantos com tamanho afã.
Este meu bairro à noite, criança insone,
contempla outros insones que a contemplam
da solidão dos seus sonhares breves.
A madrugada em ruídos se consome,
e o bairro inteiro se espreguiça tenso,
no despertar do sono que não teve.
....................
PERSONA
Explicar-te a loucura como, irmã?
Já te sentir tão pura me é culpável.
Carrego teu andor na escura trilha
que a cilha de amargura impõe de resto.
Beijo-te o beijo como amante impura.
Que me possuis em aberrante incesto.
Nasci contigo em cruel xipofagia
e és a mesma agonia que sou eu.
Irmã Novasaudade, que a persona
grega me assomas a meu rosto adulto,
nela te oculto em cênicos esgares.
Ora, qual ontem, mísera, me talhas,
soluças nas migalhas do que sinto
e eu te desminto sem poder negar-te.
...................
NA HORA DO SONO
Amar é como andar por entre facas.
A mão de sal no meu olhar de areia.
Poder levar à boca um beijo azul,
sorrir com dentes verdes e morrer.
Calcino a minha febre primitiva
na boca esquiva e negra das noturnas.
Agudo o anseio retalhando o ventre,
e o vácuo espaço qual o olho do abismo.
Todos os contos líricos morreram.
Em ti a esfinge canta um canto branco,
sereia em barco de um Caronte músico.
Amar-te é andar incólume entre facas.
Eros folheia um livro em minha cama
até rasgar-se a folha derradeira.
A febre que se esconde sem seu grito
nenhum bardo alcançou.
Nenhum passo caleja a meu encontro,
nem palavra debruça no meu cio.
Meu caminho é agora, lá na frente
ninguém respira. Há álamos sombrios.
Eu sou caudal de rio intermitente.
Cais não conheço nem arrasto amores.
Leva-me onde for, solta, a corrente.
Meu leme é minha mão, meu lume, estrela,
meu destino é aqui, ali, alhures.
Roteiro e direção não tenho escritos,
nem me comanda voz, nem prende o pulso.
Vou aonde o olho pise, e o pé alcance.
....................
PITUBA
Este meu bairro à noite é como um rio,
faróis correndo pelo asfalto morto,
águas em luzes, ondulado fio
buscando algum indefinido porto.
Guardas imensos feitos de cimento
curvas cabeças vítreas em neon,
do alto interrogam dos que vão no leito
aonde irão tantos com tamanho afã.
Este meu bairro à noite, criança insone,
contempla outros insones que a contemplam
da solidão dos seus sonhares breves.
A madrugada em ruídos se consome,
e o bairro inteiro se espreguiça tenso,
no despertar do sono que não teve.
....................
PERSONA
Explicar-te a loucura como, irmã?
Já te sentir tão pura me é culpável.
Carrego teu andor na escura trilha
que a cilha de amargura impõe de resto.
Beijo-te o beijo como amante impura.
Que me possuis em aberrante incesto.
Nasci contigo em cruel xipofagia
e és a mesma agonia que sou eu.
Irmã Novasaudade, que a persona
grega me assomas a meu rosto adulto,
nela te oculto em cênicos esgares.
Ora, qual ontem, mísera, me talhas,
soluças nas migalhas do que sinto
e eu te desminto sem poder negar-te.
...................
NA HORA DO SONO
Amar é como andar por entre facas.
A mão de sal no meu olhar de areia.
Poder levar à boca um beijo azul,
sorrir com dentes verdes e morrer.
Calcino a minha febre primitiva
na boca esquiva e negra das noturnas.
Agudo o anseio retalhando o ventre,
e o vácuo espaço qual o olho do abismo.
Todos os contos líricos morreram.
Em ti a esfinge canta um canto branco,
sereia em barco de um Caronte músico.
Amar-te é andar incólume entre facas.
Eros folheia um livro em minha cama
até rasgar-se a folha derradeira.
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