sábado, 26 de março de 2022

POEMAS de Gerana Damulakis

 

A SÓS

Talvez não haja mais
o que escrever.
Muito menos,
o que rimar.

Até a Terra sapiente
fica girando
sua ignorância.

Talvez não haja mais
por quem se apaixonar.
Muito menos,
a quem amar.

Até a coruja,
no galho a espreitar,
nada sabe da noite.

Noite ou dia,
aqui ou lá,
não importa onde,
quando: ninguém.
...........................
ARRANJOS

Do tempo presente
em todo canto,
esgarço o que sou
e o que não;
solitária é a noite
sem estrelas,
tão na escuridão
profunda
do abismo,
que é assim
pintada:
o absoluto, o nada;
sempre pinto
o que escravizo
dentro de mim.
Agrade, ou não.
..........................
MORMENTE A DOR

Mágoa, que dor
- lugar onde cheguei,
espaço onde pisei.

No entanto,
gastando quilômetros
de lágrimas,
noctâmbulo oito
horas,
transpondo seus muros
árabes, muralhas
chinesas, paredões
stalinistas

tal contido estava,
parecendo perdido,
acorrentado, rumo
à saída certa,
única e onipotente
da morte.

Transpondo a estrada
do pranto,
sim transpus, lavando
as águas nas águas
da fonte;

renasci aqui, em pé,
de pé no monte
das minhas palavras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário