sexta-feira, 4 de março de 2022

DAMA FÚNEBRE – Rafael Rocha

 

Do livro “Farol” (2019)
......
O que pode um farol
quase no centro da terra
iluminar e prevenir
se os abismos oceânicos
causam mortes trágicas?

O grande navio singra por águas tormentosas.
Marinheiros falam de cautela
e da busca da luz real.
Eles desconfiam das claridades cinzentas
dos faróis das ilhas do ódio.

As promessas de novos atracadouros
são parecidas com as ruínas
das escadas milenares e carcomidas
dos velhos castelos medievais.
Homicidas erguem bandeiras de aço
e apagam a luz do grande farol.

Há quem no imenso mar
comande o navio em berço esplêndido,
ainda que uma dama fúnebre
cega e maquiavélica
acate falcatruas sob a luz cinza
vinda dos faróis das ilhas do rancor.

A dama cega vai e vem e vem e vai
numa dança vampiresca no oceano.
Faz promessas de justiça
e de iluminação de astros.
Cria um deus onisciente para adoração
quando não existe um deus.

O que tantos marujos do grande barco
foram buscar
mergulhando nas profundezas abissais?
– Esperanças eivadas de mentiras!
– Falsos tesouros jorrando dos baús
(de hora em hora)
(de minuto em minuto)
(de segundo em segundo)
lágrimas de sangue e de terror!

A dama cega envolve suas mãos
cheias de garras
(frias/fúnebres mãos)
às de um falso messias
que se faz de salvador.
E nua
– totalmente nua –
dança na noite
levando as ondas dos psicopatas ao mar.

Alça voo e com asas de grande morcego
esconde a luz do verdadeiro farol
para o imenso barco despencar no abismo
sob seu canto funéreo e maldito.

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