sexta-feira, 4 de março de 2022

TRÊS MULHERES – Ridamar Batista

 

Três mulheres fazem a cabeça
das outras tantas damas presas
nas ambiguidades de si mesmas.
A indígena, a negra e a cigana
mulheres tão lúcidas, fortes e grandes
capazes de deixar no nosso sangue
a nobreza delas exaladas.
Mulheres que souberam seu destino
conhecedoras dos destinos alheios
sabedoras dos conselhos que davam
tirados dos olhares, gestos e trejeitos
lidos ao passo dos acontecimentos.
Amantes do fogo e do fogão
sabiam as artimanhas
das dores e dos prazeres
dos remédios e dos venenos
aplicados cada qual a sua vez.
De corpos pintados
as tatuagens da vida e dos enfeites
os brincos tecidos segundo suas artes
enfeitavam-se para seus homens
seus filhos e sua tribo
criavam a sina, benziam os caminhos
por onde todos pisavam.
Deitavam no leito amado
do braço de seus maridos
tinham orgulho dos seios fartos
que alimentavam sua cria.
Mulheres guerreiras e sábias
conheciam os céus e as estrelas
toda mudança do tempo
sabiam benzer e rezar
aprendizes da vida
liam no fundo dos olhos
sorviam os conselhos dos velhos
copiavam a insensatez dos jovens
criando a linha do meio.
Cada qual com tanta carga
souberam transmutar seu viver
se vivem hoje felizes
no sangue de outras mulheres
que delas puderam aprender
a arte da feiticeira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário